Diz-se dos homens que não são ilhas. Que não suportam viver sozinhos. Que se completam nos outros, nas amizades, no amor, no carinho, no ódio e no desprezo. Diz-se que da vida o que se leva são as pessoas, são os momentos que partilhamos com elas. Diz-se isto e aquilo, diz-se tudo porque há margem para isso, porque na agilidade das relações, na facilidade dos afectos, a boca perde o travão, a liberdade de pensamento corre fluída. E aí nasce o perigo. Aí onde nos sentimos confortáveis às vezes estragamos tudo, assim de forma fácil sem nos apercebemos. Uma palavra no sítio errado. Um comentário mal medido. Uma mensagem mal interpretada. E, pronto, "magoou". E, de repente, num minutos se estragam meses de conversa, dias de partilha, anos de aproximação. Não acho justo. Revolta-me. Deixa-me triste, porque uma palavra mal medida, uma omissão ali, um relaxe acolá não me resume a mim. Não resume uma relação. Não apaga a proximidade e muito menos desenlaça a corda que nos une. Na amizade, como na vida, também há margem para o erro. Aí uns dez por cento de espaço onde podemos não estar em boa forma, onde podemos espraiar um pouco dos sentimentos mesquinhos que todos sentimos e que são, apenas e só, temporários, sem importância.
PS: Não sei se faço bem escrever isto, mas se fiz mal, dêem-me os tais 10%.